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terapias empíricas : um pequeno segredo meu para você

Para ser sincera até mesmo eu tenho preguiça de mim em alguns dias. Como posso ser tão verdadeiramente feliz e também desacreditada? Quando foi que validei esse sentimento e porque o faço até hoje? Deve ser a tal da síndrome da impostora, pelo o que tenho lido por aí. Então vou experimentar uma coisinha nova, vou trazer um segredinho aqui para vocês.


gif by @libbyvanderploeg


Em minha família materna existe uma longa linhagem de mulheres artistas que não fizeram da sua arte seu sustento. Não digo nem pela perspectiva material, mas também pelo lugar de aceitar essas atividades como parte importante na construção da sua rotina. Se dando tempo para criar, tanto quanto para operar em seus ofícios inevitáveis de mulher dentro da casa.

Obviamente não tinha espaço no cotidiano destas mulheres humildes, para que cantar, dançar ou pintar fosse visto como uma necessidade vital. Não para elas, que em sua maioria vieram de um Nordeste difícil em direção a cidade grande para "ganhar a vida" com seus maridos. Mesmo assim esse fio de encantamento pelo o belo, é inegavelmente sentido em meu coração até hoje.


Nunca aprendi a costurar como minha avó, mas sinto nas minhas mãos a mesma sede de colocar no mundo o meu tempero, acho que vem daí o gosto pela cozinha. Muito embora acredite que "o lugar da mulher (de hoje) é onde ela quiser estar", preciso dizer...

Cozinhar me mostrou tanto sobre que tipo de sentimento carrego por mim mesma dia após o outro. Agora, esse assunto fica para um outro momento. Vim aqui falar do meu segredinho, afinal.

Confesso, que só vim a perceber que era um segredo quando me vi trancada tantas vezes em um quarto no primeiro ano que mudei com meu namorado. Foi um período de muita transformação e eu precisava de alguma dose de algo que me trouxesse alento: precisava resgatar o meu desejo de cantar. Até que um dia, sozinha em casa, esqueci a porta aberta e ele chegou sorrateiro e perguntou, caindo na risada: "O que é isso? Você está dando um show para si mesma?".


Fechei a porta desesperada sem nem mesmo responder o menino. Me senti despida naquele momento, o show que eu dava era mesmo um "reset button" da alma.


Só eu, minha irmã e as canções da Marisa Monte sabiam da existência desse momento. Às vezes eu cantava também com Clara (minha irmã) e forjávamos toda uma trajetória de "famosas" quando o fazíamos, era uma forma de sonhar sem precisar de muito.



Não tem mais jeito, agora vou ter que contar para ele", pensei.

E foi nesse exato instante que realizei a profunda terapia que o canto representava para mim. Entre um trabalho e outro, encaixava um punhado de canções que me fizeram quem eu era para lembrar que eu podia ser a artista que sonhava, nem que fosse em segredo. De certa forma foi bom que as barreiras tenham caído, a partir daquele acidente percebi que precisava de mais coragem para mostrar uma configuração menos despedaçada de mim ao meu companheiro.


Veja bem, não era nada muito profissional, eu apenas abaixava o som da música original e cantava mais alto com ajuda das letras pesquisadas no google. Agora, tinham aquelas que não precisavam de cola, eu sabia até mesmo as onomatopéias diferentes em cada novo verso, e assim são até hoje.


Essas então se tornaram minhas medicinas em tempos difíceis. E uso esse recurso até hoje, mesmo conhecendo mantras, meditação e outras ferramentas que seriam "mais eficazes". Particularmente, entendi que cantar é a liberação última dos meus pensamentos tóxicos nos dias de descrédito que já vivi repetidas vezes.


Não há tristeza que consiga ainda morar no meu peito quando eu canto, desafinada, nasalada, sem fôlego. Canto por mim e por tantas mulheres que me permitiram a vida que tenho hoje.



Agora, conta para mim? Você tem alguma ferramenta assim que te liberta e te faz lembrar da criança que um dia foi você?


Não precisa ter as vestes espirituais tradicionais, ela pode estar na manifestação de qualquer coisa que altere positivamente o teu estado de consciência.

Agora é sua vez, a porta está aberta. Vou adorar saber. Até o nosso próximo encontro.

Obrigada por me ler até aqui.


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