jardim de lua nova
Pela troca com outro, pela escuta ativa e pelo silêncio, aprendi mais a estar em mim. E assim percebi quantos abismos me habitavam. Timidamente fui adentro nos meus escuros e chamando para que ela se mostrasse. Sim ela, a mulher que eu sou também. Minha parte fera, que também é reflexo de mim, com um colorido diferente. Aos poucos fomos nos reconhecendo e vendo, naquele espelho uma da outra, quanta verdade tinham aquelas dores. Com teimosia insisti que elas se aproximasse de mim, mas aquele território recém aberto, tão escuro e mofado não me parecia que as coisas seriam feitas à minha maneira. Eu teria que respeitar o tempo das minhas aflições. Então, em passos curtos fui chegando perto, chegando bem perto e vi que essas dores eram flores que sentiam saudade de serem regadas de luz e água. Resilientes as bichinhas, tão quietinhas falavam bem baixinho e exalavam ainda um cheiro estranho, como uma névoa entorpecente que impedia que eu me aproximasse mais. Quando finalmente sintonizei e ouvi um rouco e abafado algo mais ou menos assim: "-Não mais admitimos os meios repressivos, as máscaras. Não, não queremos mais a troca desarmônica, o não justo com estampa bonita, o desafeto, a manipulação. Em seguida, uma longa pausa se deu e senti que já havia escutado tudo, era hora de ir… Quando ouço de repente em couro, o jardim inteiro vibrando em coro: -nós sabemos e reconhecemos o nosso nutrir e ele não pode mais nos ser negado, nós sabemos e reconhecemos o nosso nutrir e ele não pode mais nos ser negado…"
Como podia, tamanha sabedoria estar assim tão escondida? Como desaprendi a escutar essas flores? Quando menos esperava matei a charada: das armas que aprendi a ter para sobreviver o mundo lá fora, transformei em cartas de amor no meu mundo aqui dentro. E sei, que assim, sendo inteira, me vestindo na minha pele mais selvagem, comecei a erguer a minha voz.
Dando espaço para o silêncio, tentando de novo e de novo. Sem ter medo aprender mais sobre esse ecossistema de amor que é se saber mulher. E eu comecei a erguer minha voz.
Um altar interno foi plantado em mim em nome de mim mesma. Por isso, vou encontrando espaço na minha rotina para acessar essas tantas vozes, retornando para aquele mesmo lugar, regando, conversando. Com calma. Naquele jardim onde é sempre noite.
Devagar meus passeios internos ganham cada vez mais importância e eu me visto em mim orgulhosa do trabalho que tenho feito. Parece que de tanto me querer de verdade, parei para olhar que sou também como tantas mulheres que vieram antes de mim.
E por isso agradeço.
Com Amô,
Aninha Colier
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